ITAMBACURI EM FOCO ENTREVISTA A PSICÓLOGA KARINE VIEIRA COUTINHO SOBRE A SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM TEMPO DE CORONAVÍRUS.

  

KARINE VIEIRA COUTINHO é especialista em Saúde Mental.  Cursou Gestão de Clínica na Atenção Básica, Cursou abordagem família na Atenção domiciliar, participou do curso Prevenção e controle de Infecções causadas pelo Novo Coronavírus. Hoje atua na Saúde Mental na Secretaria Municipal de Saúde de Teófilo Otoni e nos concedeu uma entrevista na qual explica os principais desafios dos profissionais de saúde, seus incômodos e frustrações neste período de Coronavírus.  

Karine Coutinho iniciou carreira como Psicóloga na cidade de Itambacuri em 2012. Atua como psicóloga na saúde municipal desde 2013.

O COVID-19 teve o potencial de transformar o hospital, local onde busca a evolução da saúde, em um ambiente mais inseguro para os profissionais de saúde.

Se hoje, muitos pessoas sentem um medo intenso de contrair o coronavírus,  e se apavoram quando percebem alguém com os sintomas daquela doença, muito mais preocupação vivem os profissionais de saúde que passam a maior parte do tempo no local onde acolhem as pessoas com o quadro da doença.

Com 254.220 casos confirmados de contaminação pelo coronavírus, com 16. 792 óbitos, com médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e maqueiros expostos à contaminação, sendo que muitos acabam perdendo a vida para a Covid-19, estes profissionais de saúde,  cada vez mais vêm no trabalho um risco à suas vidas.

Este assunto deve ser encarado de frente por todos nós, porque sem o cuidado para com os profissionais de saúde nossas vidas também estarão em risco. Para isso, entrevista exclusiva ao Itambacuri em foco, Karine Vieira Coutinho, psicóloga, aponta quais os principais desafios dos profissionais da saúde em tempos de Coronavírus – COVID-19.

Confira abaixo a nossa conversa.

1- Itambacuri em foco – Como fica a saúde mental dos profissionais de saúde em tempos de pandemia?

   Karine Vieira Coutinho- Em tempos de pandemia os profissionais de qualquer unidade de saúde, como qualquer outro ser humano, estão suscetíveis a vivenciarem maiores impactos psicológicos que outros indivíduos, isso devido as drásticas mudanças no ambiente de trabalho e a pressão de estarem mais expostos.

Por exemplo:

Aprender novos protocolos;

Novos arranjos no ambiente de trabalho;

Estarem próximos aos cuidados de pacientes com diagnostico COVID19;

Ter equipamento de segurança que é a paramentação de EPI (Equipamento de proteção individual), e além de ter o conhecimento de se paramentar de forma adequada, ter o conhecimento e a responsabilidade de se desparamentar (retirar) de forma apropriada (o desparamentar de forma indevida tem sido um dos fatores de maior contagio ao profissional de saúde como consta em pesquisas até o presente momento).

Não sendo o bastante os fatores psicológicos vividos mundialmente, como: o medo, estresse, ansiedade, para o profissional de saúde pode chegar além do padrão de normalidade, sendo assim a ida e o retorno do trabalho para seu lar tem sido fator de grande estresse em pensar na possibilidade de contagio a um familiar.

É uma reflexão que ainda não se tem certezas absolutas em termos de estatística, mas que permeiam no cotidiano de quem está no serviço da saúde ou próximo de alguém que trabalha na saúde.

2- Itambacuri em foco – Quais os cuidados os profissionais de saúde devem tomar durante este período de pandemia para aliviar o estresse?

   Karine Vieira Coutinho- Frente a pandemia, ao inesperado COVID 19, faz-se necessário que cada profissional de saúde tenha o bom senso em se auto avaliar se está preparado pra enfrentar o estresse do dia a dia e seus riscos, temos vistos que muitos são contagiados e buscam culpar instituição, colegas etc.

Evite alardes como notícias inapropriadas, avalanche de informações negativas de várias fontes (certas ou fakes).

Busque se capacitar e ter limite de informações. Temos um capital mental a nossa disposição, porém esse capital pode ser gasto de forma saudável e não permitir um desgaste desnecessário.

Como dizia o poeta romano Juvenal “Mens sana in corpore sano” que significa “mente sã em corpo são”, ou seja:

Faça seu planejamento de vida diária envolvendo família etc, seu relógio biológico deve se adaptar entre deveres e prazeres.

Mantenha o ambiente externo organizado (casa organizada), sabe-se que o ambiente harmônico propicia um ambiente interno (mente) tranquilo e saudável.

Criatividade nas atividades diárias com família, dividir responsabilidades,

Alimentação equilibrada e saudável está diretamente ligada aos nossos hormônios do bem estar, e todo ganho de energia e imunidade contra o estresse,

Não menos importante O SONO de qualidade pois, a insônia é o grande alerta vermelho do nível elevado de estresse.

3- Itambacuri em foco - Quais os problemas de saúde mental, podem sofrer os profissionais de saúde durante este período de pandemia em razão da jornada exaustiva, do medo de contágio, de noticias de mortes de outros profissionais de saúde?

Karine Vieira Coutinho – Problemas psicológicos (emocionais, sentimentais, comportamentais), problemas psicossomáticos (somatizações de patologias) e transtornos psiquiátricos:

Estresse Agudo é porta de entrada para:

Transtorno da ansiedade;

Ansiedade generalizada;

Transtorno do pânico;

Transtornos do humor;

Depressão leve, moderada, grave;

Transtorno bipolar.

Sinais: medo, pavor ou falta de interesse em ir trabalhar, muito sono, cansaço exagerado, insônia, pensamento acelerado, taquicardia, tremores, dor no peito, choro constante geralmente sem motivos aparentes.

Observação: todos temos estresse, ansiedade, tristezas dentro do padrão de normalidade.

4- Itambacuri em foco – Como a Secretaria Municipal de Saúde pode ajudar na prevenção de doenças psiquiátricas por profissionais de saúde?

Karine Vieira Coutinho – Ofertar capacitações (PCI) Prevenção e Controle de Infecções, aos trabalhadores de saúde para preparação e prontidão frente ao Coronavírus.

Oferecer EPIs (equipamentos), mas, também treinar como utilizá-los e os cuidado necessários ao retirá-los.

Diálogos firmes (protocolos do MS e vigilância adaptados ao contexto ao territorial munícipe com uma mesma linguagem).

5- Itambacuri em foco - Que medidas as instituições hospitares devem tomar para diminuir o Stress no ambiente de trabalho, em tempos de pandemia?

 Karine Vieira Coutinho – As instituições devem ampliar e adaptar a uma humanização intensificada entre profissionais e pacientes, mesmo sem o toque/expressão/calor humano é possível ter empatia (se colocar no lugar do outro), métodos para tornar o ambiente mais leve, acolhedor, menos toxico de histerias, pautadas na ética multiprofissional, da recepção, da clínica, dos serviços gerais, cozinha etc. ( estes todos são profissionais de frente em uma instituição hospitalar e demais unidades de saúde).

6- Itambacuri em foco - Nas grandes cidades, muitos médicos estão alugando casas e/ou apartamentos próximo aos hospitais para evitar qualquer risco às suas famílias, especialmente os que moram com idosos e há municípios que estão oferecendo vagas em hotéis para os profissionais de saúde. Você vê essa providencia como uma alternativa a ser adotada nos pequenos municípios pelos prefeitos, em Itambacuri, por exemplo, a locação de um imóvel....um apartamento ou casa, para servir de lar provisório para os profissionais de saúde neste período de quarentena?? Isso traria mais tranquilidade para os profissionais de saúde??

    Karine Vieira Coutinho –Aqui, vejo alguns profissionais dando algum jeito, se tem criança muito pequena em casa, as enfermeiras não vão para casa delas, vão para de outra amiga, ou parentes, que não seja grupo de risco. Hoje, mesmo, eu encontrei com uma que tem uma menina de 3 e um menino de 7 anos.... ela me falou que é medo quando sai de casa e mais medo quando chega em casa. Mas aqui na nossa região, não estou vendo esta estratégia de colocar profissionais de saúde em hotéis, por exemplo, como foi feito no Rio de Janeiro.  E ainda observamos que alguns hotéis estavam se dispondo a abrir as portas mais para médicos, para enfermeiro chefe e desvalorizam muito os outros profissionais que estão no mesmo risco. É um tabu entender que Profissionais de frente é só médicos e enfermeiros-chefe porque a equipe toda está ali em contato e lidando com as demandas que chegam, que ficam e que saem. Eles estão no mesmo risco, estão lidando com o mesmo diagnóstico. Então eu entendo ser muito injusto o porteiro e a faxineira não ser profissional de linha de frente. É preciso ter esta preocupação com todos. Esta é uma opção para que os profissionais de saúde se sintam mais seguros.

Fiquem atentos para novas entrevistas aqui no Itambacuri em foco.

DESAFIOS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Nós do Itambacuri em foco entendemos que os profissionais de saúde possuem alguns desafios a serem superados, neste tempo da pandemia - COVID-19.

Sabemos que mesmo com o número de casos de pessoas contaminadas subindo em nosso município e região e o elevado número de mortes no país, temos observado que algumas pessoas estão desrespeitando a regra do isolamento.

Fecharam os bares, muitos estão reunindo em suas casas para fazerem festinhas particulares.

Fecharam os templos e igrejas,muitos estão reunindo amigos em suas casas para fazerem orações.

Fecharam-se os salões, há cabeleireiros atendendo em suas residencias.

Há um entendimento de que “na minha casa, mando eu!”

Sem um olhar social,  não percebemos a gravidade do Coronavírus.

Nenhuma outra doença, por mais terrível que seja, se compara ao coronavírus.

É a doença que além de tirar vidas,  não permite que as pessoas sadias desfrutem do que possuem.

Se temos condições de ir à praia, ao clube, a academia; não podemos ir.

Se antes reclamávamos que não tínhamos roupas, hoje nossos guarda-roupas parecem muito cheios porque não podemos usar...não temos onde ir.

Há um distanciamento que somos obrigados a seguir, se não quisermos arriscar a adoecer.

Se você vai a um supermercado e uma pessoa tosse, todos apavoram.

As pessoas não estão tranquilas. Elas estão com medo umas das outras.

O mundo inteiro paralisou por causa desta doença, são várias as recomendações da organização Mundial de saúde, de profissionais da medicina, de cientistas, infectologistas.

A velocidade de reprodução do coronavírus é assustadora.

Nem o Sarampo, nem o H1N1, nem a dengue matou tantas pessoas em curto período de tempo. 

Nossos hospitais não estão preparados.

Então...Um dos principais desafios dos profissionais de saúde é de serem reconhecidos pela sociedade como pessoas que correm o risco de contrair a doença e que quando o cidadão cumpre o isolamento social ele ajuda a preservar a saúde física e mental do profissional de saúde.

Um segundo desafio é como conseguir que as Secretarias Municipais de Saúde remunerem melhor esses profissionais que tem habilidades que profissionais de outras áreas não possuem e que tem por missão atenderem os pacientes hospitalizados com COVID-19, colocando em risco suas próprias vidas.

Um outro desafio é fazer com que os administradores públicos voltem os olhares para estes profissionais, entendendo que eles não podem levar o vírus para suas casas, correndo o risco de infectar pais, mães, irmãos, maridos e, por isso, os gestores devem investir em um espaço provisório para moradia daqueles profissionais que possuem, especialmente, crianças e idosos ou outros do grupo de risco em suas casas.

Não dá para um profissional de saúde ter que gastar o que recebe para alugar uma casa ou apartamento. Então, é preciso que o gestor cuide de alugar um espaço, um hotel, para que os profissionais de saúde que necessitem passem a residir neste local durante este tempo de pandemia, para que eles possam trabalhar mais tranquilos e deixem suas famílias tranquilas, também.

Fiquem atentos para novas entrevistas aqui no Itambacuri em foco.

Hoje é o dia da luta por direitos das pessoas com sofrimento mental.

É preciso romper ao estigma e à exclusão de pessoas em sofrimento psíquico grave, em nome de pretensos tratamentos.

Todo cidadão, pessoas com transtornos mentais, têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direito a receber cuidado e tratamento.

A Lei Brasileira de Inclusão das Pessoas com Deficiência (Lei Federal nº 13.146/2015), em vigor a partir de janeiro de 2016, rompe com a condição de incapacidade absoluta que outrora era atribuída às pessoas com transtornos mentais.

A curatela e a restrição de direitos existenciais e de personalidade, como os direitos ao voto, ao casamento, à educação, ao trabalho, à adoção, à sexualidade e ao próprio corpo, passam a ser exceção.

Pela cidadania!

CONAVÍRUS - HOJE EM ITAMBACURI

A Secretaria Municipal de Saúde de Itambacuri por meio da nota diária oficial informou que os número de notificações em relação ao dia de ontem permaneceu em 56 e que houve 18 casos descartados por exames laboratorias. Portanto, permanecem em número de 02, os óbitos ocorridos por coronavírus em Itambacuri.